Cantar é próprio de quem ama
“Cantar é próprio de quem ama” (St. Agostinho), mas “amamos porque Deus nos amou por primeiro” (I Jo 4,10). Podemos dizer, então, que cantar é próprio de quem ama porque foi amado. O canto se torna assim uma resposta que flui sem o menor esforço em gratidão pelo amor recebido. Quem se sente amado encontra descanso, reconhece-se inteiramente acolhido, aceito, compreendido. A experiência do verdadeiro amor totaliza, torna a alma plena. Se em nossos relacionamentos familiares e fraternos passamos por momentos de frustração, recusa, incompreensão, decepção, devemos estar certos que, isso nunca acontecerá em relação ao Pai, pois é impossível que Ele ‘nos confunda em nossa esperança’ e se esperamos em seu amor podemos caminhar ao seu encontro convictos de que O encontraremos. O Pai tanto nos amou que enviou seu Filho, seu único, para dar a Deus o que é de Deus. É justíssimo ofertar ao Senhor o canto de louvor que lhe é devido e, mais que isso, é bom cantar a Ele “salmos, hinos e cânticos espirituais”, dá prazer ao coração, traz alegria para a alma. Quem em plena saúde psíquica, podendo optar por fazer alguma coisa prazerosa, escolheria algo que lhe traria mal estar, desconforto, repulsa? Optar pela reclamação e blasfêmia é loucura! Sinal de cegueira e adoecimento do nosso coração. Se as circunstâncias nos levam à murmuração, a constância do amor de Deus é perene e grandioso motivo para nosso canto de louvor.
Olha nos olhos do Pai, vede o sorriso nos seus lábios, seus braços abertos, seu coração que pulsa, vede bem como por seu amor teu pecado se dissolve, tua culpa é apagada, tua treva é dissipada! Se abandonas tua cegueira e reconheces o rosto de teu Pai, cheio de bondade, a blasfêmia que, impulsiva, procurava sair de teus lábios, será desencorajada, tu te envergonharás e compreenderás, com toda justiça, o louvor que a teu Senhor é devido. Não se canta a Deus de qualquer maneira, mas de todo o coração.
Esta afirmação é um ressoar da ordem dada a Israel: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,5). Se Ele nos dá esta palavra como mandamento é porque seu cumprimento nos é perfeitamente possível. O chamado é claro, amar por inteiro, com tudo o que temos e somos, pois quem se contenta em ser amado por apenas parcialmente, na verdade contenta-se em não ser amado. Nosso Deus é um Deus ciumento e não suporta nos dividir com ninguém.
Ama, então, alma minha, e ama com tudo o que és “Àquele que É” digno de teu canto. Canta sem medo, pois é bela a melodia da sua vida e muito agrada os ouvidos a quem ela se dirige.