OBRAS DE MISERICÓRDIA – VISITAR OS ENFERMOS

“Tusso! Tusso! Até pareço a locomotiva de um trem que che­ga à estação. Também eu chego a uma estação: a do Céu, e eu o anuncio!” (Santa Teresinha do Menino Jesus)

“Fortificai as mãos desfalecidas, robustecei os joelhos vacilantes.
Dizei àqueles que têm o coração perturbado: Tomai ânimo, não temais! Eis o vosso Deus!”
Isaías 35,3-4

Temos duas situações nas palavras acima. A primeira, de uma enferma sobre si mesma. A segunda, de Deus para os enfermos e para os que tem o dever de animá-los, pela caridade. Ambas nos ajudam a meditar sobre a obra de misericórdia “visitar os enfermos”.

Teresinha fala de sua própria enfermidade numa perspectiva positiva, dando sentido a todo o seu sofrimento, do menor ao maior. Sua tosse é vista como um anúncio da chegada ao Céu. Ela é uma enferma com uma doença incurável para a época, certa de que vai morrer, mas que coloca em Deus toda sua esperança, vivendo sua dor com alegria.  Assim, torna-se modelo para todos os enfermos. De fato, sua postura diante da doença é inspiradora e nos faz desejar que cada enfermo no mundo possa imitá-la.

Entretanto, sabemos que a maior parte dos enfermos no mundo não consegue dar sentido ao próprio sofrimento. Mais do que nós, o próprio Deus sabe. Por isso diz aos enfermos que se fortifiquem, que se robusteçam. A Palavra que sai da boca de Deus tem esse poder! Muito mais do que o que podemos fazer, o próprio Deus faz aos enfermos com a força de sua Palavra. Não curava Jesus os enfermos com a força de sua Palavra?

Mas a Palavra de Deus não se dirige somente aos enfermos. Ela se dirige aos que estão sãos para que ajam em favor dos doentes. É o próprio Deus quem exorta: “Dizei!”, ou seja, é dever dos sãos animar os enfermos anunciando a proximidade do Senhor de suas vidas, seja pela cura, seja pela morte, ingresso que nos leva ao encontro com Deus. Dessa forma, cabe aos sãos serem portadores da presença confortadora do Senhor aos que estão enfermos.

Essa epifania do Senhor através da visita aos enfermos se dá de duas maneiras principais: pela visita direta e cuidado aos doentes ou pela consagração de vida à melhoria das condições de saúde. A visita direta e cuidado para com os doentes é uma obra de misericórdia muito importante no mundo de hoje. Sabemos que a enfermidade faz parte do curso da vida, da condição humana. Entretanto, há muitas pessoas que não experimentam nenhum cuidado quando atravessam a doença. Visitar essas pessoas e cuidar de suas enfermidades é fazer como o bom samaritano que viu o enfermo, deteve-se e o tratou com compaixão. Essa foi a grande obra de vida de Santa Teresa de Calcutá diante da realidade que encontrou na Índia. Seu trabalho é inspirador a cada um de nós para o cuidado com os enfermos no dia de hoje.

A outra maneira de manifestarmos a presença do Senhor nesse campo é através da consagração de vida à melhoria da saúde da população em geral, especialmente aos mais carentes. Quanto há que se fazer para que o mundo inteiro seja mais saudável! É verdade que as estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) têm mostrado uma acentuada melhora na saúde da população mundial, mas ainda estamos longe de alcançar a dignidade na saúde para cada ser humano. Vejam algumas notícias bastante atuais:

 

NIGÉRIA – O conflito pelo que passa o país destruiu duas de três instalações médicas da OMS. Quase sete milhões de pessoas estão em situação de necessidade médica.

SUDÃO DO SUL – Em 2016 1,3 milhão de pessoas sofreram com a malária. Atualmente, 4,7 milhões estão em situação de necessidade médica.

SÍRIA – 13 DE OUTUBRO DE 2017  –  A OMS recebeu relatórios de um ataque às instalações médicas na República Árabe da Síria Oriental que destruiu o único quarto frio de vacinas no distrito de Al-Mayadeen, Deir Ezzor Governorate. Mais de 100.000 doses de vacinas contra o sarampo e 35.000 doses de vacinas contra a poliomielite foram armazenadas nessas instalações, juntamente com equipamentos, seringas e estoques para todas as doenças infantis evitáveis ​​pela vacinação.

IÊMEN – Ammar, de 15 anos de idade, encontra-se numa maca no pátio do hospital Al-Jumhoori em Sa’ada, Iêmen, que sofre de queimaduras em seu rosto e corpo como resultado de uma explosão em seu bairro. Enquanto isso, Ghaleb Abdullah, caminha com dificuldade em suas muletas, recuperando de uma lesão na perna causada por estilhaços voadores. Sua dor ainda é agravada por ter que esperar para receber o tratamento necessário. Muitos pacientes em Sa’ada, como Ammar e Ghaleb, lutam para acessar o tratamento médico adequado. Eles se reúnem para o hospital Al-Jumhoori, que está em repouso e desmoronando, o único hospital de referência público em Sa’ada, a 240 km de Sanaa, em busca de cuidados. Desde o início do conflito em março de 2015, cerca de 2.000 pessoas foram mortas ou feridas na violência esporádica que atormentou Sa’ada. A infra-estrutura chave, incluindo instalações de saúde, também foi prejudicada no governador, que tem uma população de mais de 900 mil pessoas. Medicamentos e suprimentos médicos estão se esgotando rapidamente. Esses desafios de saúde são agravados pela deterioração da situação humanitária, falta de eletricidade e uma grave escassez de combustível para os geradores necessários para operar equipamentos cirúrgicos e salas de operação. “O hospital Al-Jumhoori é o único hospital público que serve o governador de Sa’ada, mas ainda está operando sob uma grave falta de medicamentos, suprimentos médicos e médicos especializados”, disse o Dr. Mohammed Hajar, diretor do diretor do hospital. “Nosso financiamento operacional foi cortado por isso reduzimos os serviços de saúde a um mínimo absoluto. Além da escassez de especialidades básicas, o hospital não possui oftalmologistas, obstetras, ginecologistas e cardiologistas “. Apesar de tudo, o Hospital Al-Jumhoori continua a tratar centenas de pessoas doentes e feridas.

Médicos, enfermeiros, cirurgiões e outros profissionais de saúde permaneceram no hospital para atender os pacientes e tratar os feridos, apesar da insegurança e dos desafios econômicos. “A sala de emergência recebe cerca de 50 casos todos os dias e às vezes o número sobe para 70-80 casos, especialmente após bombas repentinas”, disse o dr. Abdulla Al-Mawsemi, chefe da sala de emergência. “O lugar geralmente está lotado aqui, enquanto o equipamento, os médicos e os medicamentos não são suficientes para lidar com os pacientes que são muito pobres para pagar medicamentos e serviços de saúde em estabelecimentos de saúde privados”.

“Devido à enorme lacuna no número de médicos e profissionais de saúde, temos que trabalhar por horas tão longas que sofremos pressão psicológica e tensão muscular”, explicou. Os motoristas da ambulância também arriscaram suas vidas para salvar pessoas. No ano passado, Abdul-Malek Amer e seu assistente Qasem Al-Shabi, empregados pela OMS e MSF, foram mortos na linha do dever. Eles estavam pegando pacientes feridos quando uma bomba atingiu, matando ambos, destruindo a ambulância e ferindo dezenas de espectadores.

Diante de alguns flashes da realidade mundial, o que devemos fazer? Nossas orações alcançam os enfermos? Certamente que sim. Entretanto, é preciso refletir se há algo que é nosso, ou seja, que só nós devemos fazer e não estamos fazendo para com os enfermos e para com o sistema de saúde em nosso mundo. O segredo já nos foi contado por Jesus na parábola do Bom Samaritano: parar, contemplar, ter compaixão e se mover até o enfermo fazendo todo o possível a ele. Ainda que não consigamos o melhor a cada enfermo, ao menos temos que ter a certeza de estarmos fazendo o nosso melhor.

“A maior doença do Ocidente hoje não é a lepra nem a tuberculose; é ser indesejado, não ser amado e ser abandonado. Nós podemos curar as doenças físicas com a medicina, mas a única cura para a solidão, para o desespero e para a desesperança é o amor. Há muitas pessoas no mundo que estão morrendo por falta de um pedaço de pão, mas há muito mais gente morrendo por falta de um pouco de amor. A pobreza no Ocidente é um tipo diferente de pobreza – não é só uma pobreza de solidão, mas também de espiritualidade. Há uma fome de amor e uma fome de Deus”.  (Santa Teresa de Calcutá)